sábado, 31 de janeiro de 2009

Back in Time


Subitamente à minha volta todos parecem contagiados por uma nostalgia estranha: os discos de vinil.


Lojas mais alternativas, lojas de artigos usados, lojas especializadas em música...todas aparecem carregadas de discos de vinil! Artistas contemporâneos editam os seus êxitos mais recentes neste formato...sugem modelos recentes de gira-discos, aparecem a anuncios publitários em que o vinil a tocar ocupa um papel de destaque....


Eu adoro vinil, mas dei comigo a perguntar-me porquê esta súbita mudança quando ainda há pouco tempo os discos de vinil serviam para pouco mais do que para decoração das paredes.

Numa era em que a musica e tudo menos material -fazemos downloads e transportamos centenas de musicas em aparelhos pouco maiores que uma caixa de fósforos e, ainda para mais, pudemos mudar esses temas sempre que quisermos- o que leva gente tão comodista a deixar-se voltar a seduzir pelos velhinos círculos de plástico do tempo dos nossos pais e avós, que têm uma capacidade de conteúdo bastante limitada e cujas capas enormes, apesar de apelativas não podem conter as letras das canções como acontece com os cd's?


No outro dia, em casa de um amigo reparei que a banda sonora das conversas do costume (Ray Charles ou Aretha Franklin, pois claro!) provinha de um gira-discos novinho em folha.

No meio de sentimentos contraditórios e porque sou uma grande fã dos albuns em vinil que ouço, conservo e coleccionos desde muito nova, fiz-me de ignorante e interroguei os presentes sobre o porquê desta súbita paixão.

No meio de um coro desordenado, sobressairam duas respostas: não é possivel "piratear" um álbum de vinil e, exactamente por terem sido os companheiros das gerações anteriores, este formato comporta uma certa "mística" que nos transporta para um tempo que, nosso imaginário, nos parece ter sido mais simples.


Então, talvez seja isso. Talvez ainda não estejemos assim tão deprendidos para deixar as coisas à nossa volta desmaterializarem-se pela inovação tecnológica como tem acontecido com a música, talvez usemos a nostalgia como meio de fuga para o passado quando as circunstâncias parecem tão negras....

A verdade é que o vinil ocupa e sempe ocupou um lugar especial na nossa imaginação e hoje, mais que nunca, está na moda, numa espécie de estilo vintage, que ainda por cima tem a vantagem de agradar a quase todas as faixas etárias.

Por isso pessoal, toca a ir à arrecadação procurar os gira-discos e os albuns antigos (ainda para mais é económico!) porque o vinil agora é fashion!!!!!

Cidade mistério


Porto Sentido - Rui Veloso


Quem vem e atravessa o rio

Junto à serra do Pilar

Vê um velho casario

Que se estende ate ao mar


Quem te vê ao vir da ponte

És cascata, são-joanina

Dirigida sobre um monte

No meio da neblina.


Por ruelas e calçadas

Da Ribeira até à Foz

Por pedras sujas e gastas

E lampiões tristes e sós.


E esse teu ar grave e sério

Dum rosto e cantaria

Que nos oculta o mistério

Dessa luz bela e sombria


Ver-te assim abandonada

Nesse timbre pardacento

Nesse teu jeito fechado

De quem mói um sentimento


E é sempre a primeira vez

Em cada regresso a casa

Rever-te nessa altivez

De milhafre ferido na asa


Carlos Tê