Desde há muito tempo que sentia estar em dívida para uns quantos amigos…e amigas, pois sempre achei que um dia haveria de escrever algo relacionado com os ideais que perfilham. Refiro -me àqueles tontinhos que colam autocolantes com a bandeira azul da monarquia na traseira dos carros, ou que colocam mini-estandartes com o mesmo símbolo junto do telefone e que compram pratos decorativos alusivos ao nascimento dos filhos do D. Duarte Pio de Bragança (isto considerando que é efectivamente este o legítimo herdeiro do perdido trono português, descendendo de D. Miguel, e não os Duques de Loulé, descendentes de D. Pedro).
São estas pessoas que citam frequentemente um estudo da extinta revista “Flash” que afirmava que os portugueses, pelo menos no seu íntimo, eram monárquicos uma vez que as vendas da referida revista subiam cerca de 40% de casa vez que os Duques de Bragança apareciam na capa, e que afirmam que uma vez que o Presidente da República ocupa mormente funções representativas, essas funções poderiam facilmente ser desempenhadas por um rei, como aliás acontece na maioria das nações europeias mais desenvolvidas (Suécia, Noruega, Dinamarca, Inglaterra, Holanda, Bélgica, Espanha…) - como estudante de direito permito-me discordar neste ponto, mas apresentarei apenas os argumentos mais frequente utilizados pelos apoiantes da causa monárquica.
Quando decidi tratar este tema, pensei começar por abordar o carácter monárquico ou republicano da cidade do Porto. Mas acabei por ficar com dúvidas.
Por um lado, o Dr.Júlio Couto – conhecido escritor portuense - afirmou recentemente numa entrevista que o Porto é uma cidade marcadamente republicana, referindo-se aos acontecimentos de 31 de Janeiro de1891, quando pela primeira vez a república foi proclamada no nosso país, mais concretamente à varanda da câmara municipal cidade do Porto. Todavia, a revolta primou pelo amadorismo e não durou mais do que umas horas
No entanto, foi também no Porto que a 19 de Janeiro de 1919, na sequência de um golpe de estado resultante do assassinato do Presidente da República Sidónio Pais foi restaurada a chamada "Monarquia do Norte”, que duraria até 13 de Fevereiro do mesmo ano. Situação esta que contraria definitivamente a tese do Dr. Júlio Couto
Enquanto eu me debatia com este entrave histórico e procurava a melhor maneira de abordar este assunto, os acontecimentos ultrapassaram-me.
Em 2009, ano de crise económica e social, de múltiplas eleições, e quando se aproxima a comemoração dos 100 anos sobre a implantação (definitiva) da Républica em Portugal….os monárquicos começaram a sair do armário e a demonstrar que são, como eu já sabia, mais do que os filhos da fidalguia rural falida, toureiros ou fadistas.
A primeira acção não passou despercebida, quando no dia 10 de Agosto, activistas do blog “31 da Armada” (http://31daarmada.blogs.sapo.pt/) hastearam a bandeira monárquica na varanda da câmara municipal de Lisboa.
Todavia tiveram a infelicidade de retirar a bandeira do município que lá se encontrava e, por isso acabaram por ser responsabilizados criminalmente.
No dia 20 de Agosto, a proeza repetiu-se na praça da câmara municipal de cascais, e, embora a autoria da acção não tivesse sido reclamada por nenhum blog apoiante da causa monárquica, pelo menos desta vez tiveram a sensatez de não permitir qualquer enquadramento da acção como crime.
Ontem , 4 de Setembro, foi a vez da nossa cidade do Porto aderir ao movimento (tardou mas não falhou!). Desta vez, o trabalho fico a cargos dos seguidores do blog “Portugal Monárquico” (http://portugal-monarquico.blogspot.com/) e não se ficou por um simples hastear da bandeira….
Para terminar, um abraço a todos os monárquicos de Portugal, e em especial aos que conheço, pois apesar de não me sentir minimamente identificada com a causa, não deixo de admira a sua persistência….e rebeldia!
sábado, 5 de setembro de 2009
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Vais desculpar-me o atrevimento, mas dizer que seriamos melhor como uma monarquia é quase como dizer que o bom era quando o Salazar governava.
ResponderEliminarAcho é que as pessoas nunca estão satisfeitas ou contentes com o que têm: eramos uma monarquia, lutámos pela república democrática e quando ela falhou implantámos a ditadura, para agora vivermos novamente numa república democrática e alguns dos insatisfeitos reclamarem o regresso da monarquia! Não parece um ciclo vicioso...e retrógada?!
Sabes que acerca de política não arrisco dizer muito, mas basta pensar um bocado e juntar as peças pra chegar a esta conclusão.
Beijos e continua com o blog, que já andava meio desaparecido =) **
Bom, como disse várias vezes, eu também não concordo com a monarquia, mas acho que também não é exactamente um retorno que eles pertendem...é mais uma nostalgia do que nunca tiveam, uma espécie de clube particular que os faz sentir diferentes do resto do mundo! Mas ainda bem que abriste tão bem o debate porque assim dás me uma desculpa para chamar alguém do outro lado da tribuna que explique melhor a sua posição!
ResponderEliminarBem, primeiro que tudo, obrigado pelo convite...eu nem sabia que tinhas umm blog, mas a partir de agora vou ficar atento pois parece interessante.
ResponderEliminarSegundo, creio que para confrontar monarquia com República, não é necessário saber nada de política, basta conhecer a história.
Peço desculpa à Ana mas, minha querida, nada na historia é comparável ao Salazar. Por muitas barbaridades que a monarquia tenha cometido,desde há seculos que já não havia entraves às liberdades, policia política e muito menos uma guerra sem razão!Vamos esquecer esta parte e esta ideia que, no mínimo, considero infeliz!
Aliás, devo mesmo lembrar que há monárquicos claramente de esquerda pois, apesar de em Portugal o PPM estar aliado ao PSD, nos países que têm monarquias activas exitem sempre partidos de esquerda (como os trabalhista em UK).
Existem vários tipos de monárquicos, aqueles a que a né chamou fidalguia rural, toureiros e fadistas, esses são os saudosistas, aqueles que sentem falta de tempos de glória que nunca viveram, mas de que ouviram falar pelos avós. Depois há os políticos, aqueles que defendem activamente a causa, que participam nos partidos, escrevem blogs e realizam acções como as que aparecem nos vídeos....Por fim, há os "adeptos sem clube" que são aqueles que como eu, só querem fazer parte de algo totalmente diferente de tudo, não acredito que seja fácil de entender, mas é mesmo assim.
Todos estes, minha amiga, têm em comum o facto de não acreditarem minimamente na hipótese de Portugal, ou qualquer outra República retroceder à monarquia,porque o tempo não volta para trás. Estranho? Digamos assim, nenhum comunista acredita verdadeiramente que Portugal se venha a tornar numa sociedade sem classes, mas não é por isso que o PCP vai deixar de existir e de se contrapôr aos outros partidos....é simplesmente mais uma opção, uma força divergente que impede a nossa sociedade de se tornar homogénea. Não é o objectivo da democracia ser um espaço de diversidade de opiniões?
Posto isto, nada mais tenho a dizer, penso que expliquei a ideis dos monarquicos. Quantos a estas bandeiras que por aí têm aparecido, como se vê, não passam de brincadeiras que nada representam...
Só mais uma lembrança: aninha, está na natureza do ser humano ser descontente e lutar sempre por mudanças para melhor, seja em que plano for. Se nos acomodássemos, não evoluíamos nunca, por isso nunca podemos estar contentes com o que temos.
Obrigada pela atenção e um abraço para todos os leitores deste blog, e em especial para a autora que como bem se vê tem os olhos mais bonitos do mundo!